Como uma estrela vaidosa que teme que sua idade possa colocá-la fora do jogo, o Oscar resolveu sumir com seu nome tradicional – Prêmios da Academia, antecedido pelo número – e substituí-lo pelo que todo mundo diz: os Oscars.
"Estamos fazendo um rebranding", disse o produtor Neil Meron. "Dizer 85º Prêmio da Academia soa pomposo demais, velho demais. Nosso show se chama "os Oscars"."
Neil Meron e Craig Zadan, co-produtores da cerimônia deste domingo, são homens de TV, de show e de musicais. Produziram juntos, entre outros, "Footloose", "Chicago", "Hairspray" e – o que está causando certa apreensão na cidade, por conta de sua baixíssima audiência – a série de TV "Smash". Ao dizer "nosso show se chama os Oscars", Meron resumiu a visão da dupla para o evento: eles o querem mais informal, mais divertido e muito mais musical.
Para isso a dupla puxou a brasa sem a menor vergonha para a sua sardinha: um dos pontos altos desta noite será um tributo aos musicais vencedores do Oscar, no qual se inclui, é claro, o seu "Chicago". Mas tem mais: esperem ver todas as canções indicadas sendo interpretadas, e números musicais abrindo e – novidade para este ano – encerrando a premiação.
Há quem duvide da eficácia deste último número, estrelado pelo apresentador Seth McFarlane e Kristin Chenoweth, dublando uma trilha pré-gravada nesta terça feira – depois de mais de três horas em seus assentos, sem comer, sem beber, sem fumar, mantendo-se no mais perfeito comportamento diante das câmeras, os convidados do Oscar costumam disparar do teatro assim que o prêmio de melhor filme é entregue.
Há quem duvide, na verdade, de muitas coisas com relação a este Oscar que resolveu ser informal aos 85 anos. Duvida-se da tarimba do estreante Seth McFarlane como apresentador (sua prévia, durante o anúncio das indicações, flertou com o desastre). Duvida-se do gosto de Meron e Zadan, especialmente diante do fracasso em câmera lenta de "Smash". Duvida-se que ser informal e divertido seja mesmo uma opção viável ou respeitável para o mais importante prêmio do cinema.
Duvida-se até de o quanto os prêmios deste domingo vão realmente expressar o consenso dos quase seis mil votantes da Academia. No final da tarde de terça feira, com a noite de inverno começando a uma temperatura de 13 graus, uma fila de acadêmicos, quase todos de cabeça branca, aguardava pacientemente, do lado de fora da sede da Academia, sua vez de entregar a cédula com os votos finais. Depois de um confuso balão de ensaio ano passado, a Academia resolveu implantar este ano um sistema duplo de votos: online ou por cédula. O resultado foi ainda mais confusão, com muitos votantes não se entendendo nem com a cédula online nem com o processo para solicitar a cédula de papel. Com isso, muita gente deixou para a última hora para votar, tendo que se resignar a aturar o frio para que seu voto pudesse ser contado.
Esses problemas, somado ao prazo excepcionalmente longo de votação, pode ter todo tipo de impacto sobre o que veremos hoje à noite. Houve mais tempo para campanhas, para corpo a corpo e para que os votantes vissem filmes menos populares – como "Amour", que definitivamente cresceu na última semana de votação, com os nomes de Michael Haneke para diretor e Emmanuelle Riva para melhor atriz tornando-se mais comuns nas conversas. Mas houve também mais gente perdendo a paciência, ou o prazo para votar.
"Argo", vencedor de todos os prêmios que antecederam ao Oscar, tornou-se de fato o rival do favorito de primeira hora, "Lincoln". Controvérsias sobre a falta de exatidão histórica do filme de Spielberg também contribuiram para diminuir sua popularidade, do mesmo modo como o bate boca sobre as cenas de tortura em "A Hora Mais Escura" encolheu o impacto do filme de Kathryn Bigelow (que não foi indicada a melhor diretor, assim como Ben Affleck).
Mas a verdade é que, com tantas variáveis importantes afetando a votação deste ano, quase tudo pode acontecer. Seria 2013 o ano da zebra?
Texto de Ana Maria Bahiana, disponível em cinema.uol.com.br.
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