Quando saiu a lista de indicados para o Oscar deste ano, uma ausência chamou a atenção. Fora das categorias de ator e diretor, embora sua obra, “Argo” tenha ficado entre os nove candidatos a melhor filme do ano, Ben Affleck foi considerado o injustiçado da temporada. Poucos dias depois, quando “Argo” e Affleck receberam os Globos de Ouro nas mesmas categorias a que não concorrem no Oscar, a injustiça pareceu mais evidente. Mas será que o filme, seu diretor e seu protagonista estão mesmo com essa bola toda?
A primeira decepção em “Argo” é o desempenho de Affleck como ator. Bem, um mau desempenho de Affleck não chega a ser uma decepção. Afinal, o que se espera dele? Mas já que falavam em Oscar... Na pele do agente da CIA Tony Mendez, o ator é tão expressivo quanto uma samambaia. Podemos atribuir 50% desta expressividade à opção de Affleck por uma determinada linha de atuação. O agente de Ben Affleck é cool, não demonstra emoções, não sorri. Mas os outros 50% são de responsabilidade do talento inato do ator.
Quanto à direção... bem, Aflleck é aplicado. Buscou uma textura e movimentos de câmera que lembram os filmes do fim da década de 70, época em que seu drama político é ambientado. Mas “Argo” não vai muito além disso. Um filme aplicado. No fundo, uma história que aparentemente nasceu para ser transformada em cinema não era tão cinematográfica assim. Como, a esta altura do campeonato, todo mundo já sabe, “Argo” relata o trabalho da CIA para tirar do Irã seis funcionários da embaixada americana que tinha sido invadida por estudantes e militantes políticos durante a Revolução dos Aiatolás. Mais de 60 americanos ficaram reféns por mais de um ano dos ocupantes da embaixada. Os seis cidadãos em questão conseguiram fugir e estavam escondidos na embaixada canadense.
Para entrar no Irã, Mendez simula ser um produtor canadense que está à procura de locações para um filme de ficção científica. A ideia é sair do país com os seis foragidos, que fingiriam fazer parte da equipe de filmagem. A história é verdadeira. Mas o inusitado da situação não rendeu muito. Na verdade, para sair do país com o grupo, Tony Mendez precisou apenas de passaportes falsos. O fato de eles fingirem ser um grupo ligado à cinema não alterou muito a situação. No filme, a farsa cria situações de tensão. Um exemplo é a visita mal-sucedida que o grupo faz ao Grande Bazar de Teerã. No entanto, ela não aconteceu na vida real. Também os momentos de aflição vividos no aeroporto, quando a reserva de passagens só é confirmada no último minuto e a polícia de imigração dá uma dura no grupo, são invenções do roteiro. “Argo” só funciona por ser baseado na vida real, mas, quando se descobre que muitas das suas cenas são obra de ficção, ele perde a graça.
E enquanto os seis americanos eram retirados do país, outros 60 sofriam na embaixada. Muitos atribuem a derrota de Jimmy Carter na eleição em que tentava um segundo mandato à lentidão nas negociações para liberar os reféns. Dizem também que Ronald Reagan batalhou para manter a crise. Uma liberação dos reféns favoreceria a reeleição de Carter. Os reféns foram liberados, enfim, no dia seguinte à posse de Reagan. Sei lá, acho que Ben Affleck acertou a crise mas se enganou de roteiro.
Texto escrito por Artur Xexéo, disponível em oglobo.globo.com.
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