por Rubens Ewald Filho
Em 5 de outubro de 1962, estreou o O Satânico Dr. No, primeiro filme do 007, James Bond. Estamos relembrando os cinquenta anos da franquia justamente com este filme que surpreendentemente é o melhor de toda a série (ele pode ser o vigésimo terceiro ou vigésimo quinto dependendo se a conta inclui os não oficiais. O título Skyfall nada tem a ver com Ian Fleming, criador de Bond). Melhor em tudo: na direção absolutamente competente de Sam Mendes (o mesmo de Beleza Americana), acertando pela primeira vez num filme comercial. Fora determinados detalhes de interpretação. Pode se ver toques de sua presença, por exemplo, na sequência da luta com o assassino no edifício em Xangai onde tem o luminoso – e observa-se a vítima no edifício em frente. E os luminosos formam desenhos exóticos complementando a cena com muito bom gosto.
Mas o filme é quase um reboot, outro recomeço, sendo fiel a determinados ícones da série, ainda que mexendo neles. Por exemplo, não há o tradicional tiro na plateia, com o tema de Bond (que só irá aparecer finalizando o filme junto com a chamada de uma próxima aventura, mas a qual não dão o nome). Bond só vai se apresentar pelo nome quase no meio do filme e seu drinque favorito é preparado e bebido, mas não mencionado. Um de seus carros antigos (não digo qual) reaparece já no fim e com muito charme. E o próprio vilão, talvez o melhor de toda a serie, o Sr. Raoul Silva (Javier Bardem) também só surge no filme depois da metade. Isso para não falar de Miss Moneypenny.
Enfim, só piscadas de olhos para o fã da série que não interferem tanto no resultado do filme que dá uma visão atualizada do problema de ser espião, uma profissão que todo mundo achava que está superada e caduca. Mas James Bond insiste em continuar em ação na Turquia (aliás, num lugar igual ao usado em Busca Implacável 2), onde está perseguindo um bandido que teria roubado um arquivo importante porque contém a lista de todos os espiões ingleses infiltrados em organização terroristas. (Por que existe esta lista não consigo entender? Só se foi para roubar mesmo, porque não tem outra utilidade). Enfim, ela está em mãos inimigas e isso pode significar morte para os coitados e o descrédito para M (Judi Dench).
O filme já começa com uma superperseguição (que deve muito a Bourne) que vocês já devem ter visto no trailer (Por sinal, o trailer é fraco). É quando uma atiradora do M.I.6 (a chefia da espionagem britânica que em filmes anteriores não era mencionada por nome) obedece uma ordem direta de M e atira em Bond, lutando com o vilão em cima de um trem (embora não tivesse visibilidade) e acerta em Bond, que, como vocês sabem, morre. Ai entram os letreiros e quando volta Bond está vivo e ninguém se dá ao trabalho de explicar direito como ele escapou ou quem o salvou (tem uma mulher na cama com ele, mas isso é banal em seus filmes). Enfim, devem achar que para 007 isso é normal, escapar da morte, quero dizer, e farão algo parecido de novo no lago congelado no final.
Aos poucos, vai-se sabendo que M está para perder o emprego e Bond volta muito abalado e fora de forma por causa da ressurreição. Ainda assim é aprovado pela chefe e volta a ação, flertando com a mulata que lhe deu o tiro (a charmosa e interessante Naomi Harris/Piratas do Caribe) e logo depois encontrando um linda oriental (a francesa Bérénice) num cassino que tem até dragão-de-komodo.
Tudo isso é preparação para a entrada do vilão que é uma cena brilhante, com show do ator e do diretor, que o faz descer um elevador e vir andando até a câmera contando um caso, a princípio discretamente, depois aumentando a ênfase (é um conto sobre ratos e sobrevivência) até Raoul entrar em close e passar a ter com Bond, uma conversa extremamente homossexual e sugestiva. Da qual se pode dizer que bom ator é Javier Bardem!
Dali em diante, teremos uma longa passagem em Londres com reviravoltas, perseguições, desastres, até finalmente a conclusão que trará outra surpresa a casa de infância na Escócia de Bond (com passagens secretas) para onde ele vai com M (é bom deixar claro que Judi, pela sétima vez no papel, nunca teve noutro filme da série uma presença tão grande e importante, da qual ela sabe fazer bom uso, principalmente nos momentos mais dramáticos) e onde encontrar uma velho servidor (difícil reconhecer o notável Albert Finney).
A conclusão será muito bem amarrada. Deixei de comentar algumas figuras do elenco como o jovem de Perfume, Ben Whishaw, que assume o papel de Q, Ralph Fiennes como burocrata do governo e Daniel Craig, que a esta altura já domina o papel de tão forma que fica difícil imaginar os Bonds anteriores. Lembro que foi o diretor Mendes que revelou Craig no filme Estrada para Perdição (2002). E a canção tema é interpretada por Adele (embora a primeira ouvida não tenha me parecido nada especial).
Texto retirado com adaptações do site: r7.com/blogs/rubens-ewald-filho
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