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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

[V>Teatro] Os Reis dos Musicais - Entrevista

Nesta terça-feira dia 12, no Rio de Janeiro, a coleção Aplauso da Imprensa Oficial, vai lançar um novo livro de formato grande, Os Reis dos Musicais, escrito por Tania Carvalho que narra – com muitas fotos e preço baixo (R$ 30,00) – a biografia da dupla Claudio Botelho (tradutor, ator, produtor) e Charles Moeller (habitualmente diretor, produtor) de alguns dos melhores musicais famosos no Brasil.

Avenida Q, O Despertar da Primavera (ainda no Rio, breve em São Paulo), A Noviça Rebelde, Gypsy (que está sendo ensaiado no momento), Sweet Charity. Sem esquecer que ganharam todos os prêmios como a melhor montagem do ano em São Paulo, com o musical original deles, 7 - O Musical.
A dupla é extremamente competente e um exemplo de caráter! – para todos os outros possíveis concorrentes, além de muito trabalhadores, tanto que eles foram responsáveis pelos números musicais do Cassino da Urca mostrados na minissérie da Globo sobre Dalva de Oliveira e Herivelto Martins.
Não é à toa que o livro leva esse merecido título. Além disso, Cláudio aproveita o lançamento e trabalha um pouco estreando num novo show, desta vez solo.
Ele deu uma entrevista por escrito ao importante crítico de cinema Rubens Ewald Filho, publicada em seu blog oficial, quando fizeram o lançamento em São Paulo, será a vez de Charles. Acreditamos que esta entrevista foi muito bem elaborada e mostra muito da realidade do teatro brasileiro ao público, por isso publicaremos ela mas sem nenhum objetivo de cópia, todos os créditos são de Rubens Ewald Filho.






1 – O que vai ser o show que você vai apresentar? Fica em cartaz? Onde e como? É dificil voltar a se apresentar, ainda mais sozinho? Ou prazeroso?


Cláudio – Muito prazeroso. O fato de não ter nenhum “partner” além dos músicos me deixa bem ansioso, realmente será uma experiência nova. Ainda mais numa arena como a do Sesc Copacabana onde a plateia fica tão perto da gente.
É uma espécie de “monólogo musical” (se bem que eu odeio a expressão) onde conto uma passagem ou outra do que foi a trajetória artística minha com o Charles, mas fundamentalmente canto canções de diversos musicais que fizemos ou participamos.
São mais de 40 canções no roteiro, mas há muitos medleys e o espetáculo terá apenas uma hora e quinze minutos de duração. Fica em cartaz a partir de 13 de janeiro (estreia para público) no Espaço Sesc Copacabana, de quarta a domingo, até o fim de semana anterior ao carnaval.

2 – E o livro, foi bom recordar? Como foi trabalhar com a Tânia? Alguma vez vocês se contradisseram?
Cláudio- O livro foi uma experiência incrível. Eu, que me considero uma pessoa mais fria que o comum, fui surpreendido por me emocionar ao falar de diversos assuntos. A Tânia foi um presente… Não sei como são os demais autores da coleção, mas acho que tiramos a sorte grande, pois a Tânia é muito a nossa cara, temos muita afinidade e certamente ela se tornou uma ótima amiga.
Acho que a gente se contradisse mais de uma dezena de vezes. Na verdade, o tema da nossa dupla é mesmo a contradição. Isso ficará claro no livro e o show fala disso também.

3 -Vocês estão começando agora Gypsy, fala um pouco do projeto.
Cláudio – Conheci o musical Gypsy através de um LP antigo bem no começo do meu interesse por musicais, isso ainda na década de 1980. Sempre fui fascinado por aquela música, mesmo sem ter ideia do que aquilo queria dizer ou qual era exatamente a história.
Depois conheci o todo através do filme com a Bette Middler, que é bastante fiel à peça, praticamente filmado em cenários de teatro o tempo todo. Lembro de ver este filme em VHS na época que ainda morava com meus pais. Naturalmente vi depois o filme anterior com a Rosalind Russell e Natalie Wood (adoro o filme) e duas versões na Broadway, uma com a Bernadette Peters ( direção esquisita do Sam Mendes), e a que considero definitiva, com a Patti Lupone (direção apenas burocrática do autor, Autur Laurents, mas interpretações magistrais do trio principal).
Continuo achando que é o “musical dos musicais”, uma peça perfeita de integração entre música e dramaturgia, e é um desafio tentar fazer isso direito aqui no Brasil, especialmente pelas adaptações que deverão ser feitas nas letras e na história para que o espetáculo seja próximo da nossa platéia e não seja “americano” demais.

4 – Quando você começou alguma vez, achou que o sonho de ter um mercado e um elenco possíveis para os musicais darem certo no Brasil? Por que acha que isso aconteceu?
Cláudio- Sempre sonhei com esta realidade que vivemos hoje. Talvez por ingenuidade, acreditei que era possível correr atrás disso… Mas corremos atrás, do nosso jeito, e em mais ou menos uns 10 anos a realidade mudou de zero pra 100. Esse nosso papo aqui não estaria acontecendo há mais de uma década, ou talvez estivéssemos conversando apenas sobre sonhos ou possibilidades…
Hoje falamos de coisa reais, palpáveis, os espetáculos acontecem, muitos com qualidade de primeiro mundo, e muita gente se tornou profissional de primeira linha nesse meio tempo.

5 – Quais são seus musicais preferidos. Falta realizar algum sonho?
Cláudio – Meus musicais favoritos são: Follies, Merrily We Roll Along e She Loves Me (para citar só três). Falta realizar sonhos demais, muitos mesmo. Mas confesso que não me entusiasmo mais tanto com isso de passar o resto da vida montando musicais da Broadway.
Todos os meus sonhos são mais no sentido de continuar a fazer o que tentamos fazer no 7 – O Musical. Isso é o que mais me interessa, e talvez o que me pague menos.

6 – O que mais te irrita quando vê um musical mal feito?
Cláudio- Puxa, me irrito muito com letras mal traduzidas. Com atores representando como se fossem dubladores. Com iluminadores que nunca viram um musical na vida e acham que devem fazer uma luz “discreta”. Com diretores que não dirigem, e com coreógrafos de final de ano de academia de jazz.
Irrito-me com pseudoestrelas de televisão fingindo que têm condição de se apresentar num palco cantando e dançando, quando na verdade não teriam condição nem de se apresentar no próprio banheiro. Bom, é muito irritante ver qualquer coisa mal feita, né? Tanto faz se é musical, drama, comédia Se for ruim é ruim e pronto!

7 – Há alguma diferença entre algo musical feito no Rio ou São Paulo?
Cláudio -Acho que, puxando a sardinha pro nosso lado, no Rio os atores são mais naturais que em São Paulo. Talvez pelo fato de a maior parte dos musicais montados em São Paulo ter sido dirigida por estrangeiros, que não conhecem nosso idioma e baseiam suas direções em formatos que vêm prontos dos originais da Broadway.
Formou-se de certo modo uma geração de atores que são ultra competentes na execução de partituras difíceis, mas deficientes ao viver personagens de verdade, críveis, verossímeis. No Rio, apesar de termos chegado um pouco atrasados em termos de produção e técnica, o improviso nos obrigou a criar mais e tentar atrair o público com fatores mais humanos e menos formais.

8 – Vejinha escolheu seu musical Sete como o melhor espetáculo do ano! Virão outros desse jeito?
Cláudio- Como respondi lá em cima, é isso que me move e também ao Charles. Continuar isso… Nosso próximo musical “autoral” é uma adaptação de Mirna, histórias de Nelson Rodrigues, e dessa vez pretendo fazer música e letras. Acabo de saber (hoje, dia 31 de janeiro) que Sete também foi escolhido como destaque do ano pelo Estado de São Paulo. Dá pra ficar mais feliz?

Ver postagem original aqui.

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