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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

[V>Broadway] Brasil disputa musicais da Broadway

Gênero ganha terreno no Rio de Janeiro e em São Paulo; espetáculo “Hair” foi disputado “mil a mil reais”, afirma diretor
Profissionais mais bem preparados e construção de salas de teatro com fosso de orquestra são estímulos para produtores nacionais

GUSTAVO FIORATTI

FOLHA DE SÃO PAULO

A pergunta “Quem dá mais?” parece ter encontrado um novo lugar no mundo das artes: o circuito dos musicais. Os “importadores” de peças da Broadway do eixo Rio-São Paulo já começam a esbarrar em situações de disputa e concorrência por direitos de obras premiadas ou que tiveram boa aceitação de público e crítica. Sinal de que o gênero movimenta um mercado bastante promissor -para não dizer rentável.

Segundo Cláudio Botelho, sócio da Aventura Entretenimento e autor de versões para espetáculos como “Avenida Q” e “O Despertar da Primavera”, a aquisição dos direitos para montar “Hair” foi disputada “mil a mil reais” com uma grande empresa do ramo, que ele não revela o nome. A primeira oferta para adquirir os direitos sobre o musical, que deve estrear no segundo semestre, foi de US$ 30 mil, conta Botelho. A última, inflacionada pela concorrência, chegou a US$ 35 mil.
O valor é pago também como uma espécie de garantia de que ninguém monte o trabalho no país. Mas quem adquire o direito tem prazo determinado para levantar a encenação. Em geral, vale por até dois anos.

Para se precaver de concorrências futuras, a Aventura acabou levantando um verdadeiro estoque: além de “Hair”, que estreia no segundo semestre, e de “Gypsy”, que entra em cartaz hoje no Rio, estão na gaveta da produtora textos de “Nine”, “Kiss Me Kate”, “The Fantastics!”, “O Violinista no Telhado” e “Annie”.
“Agora virou guerra”, diz Botelho. “Hoje, você vai tentar montar um musical e, quando vê, o direito já foi comprado por alguém que nem é do ramo”, completa o diretor, que viu o quadro de funcionários da produtora da qual é sócio triplicar de tamanho, pouco tempo depois de ela completar um ano de existência.
A maior “concorrente” da empresa carioca, considerando-se o poder de barganha para conseguir direitos, é a T4F. Só que, diferentemente do grupo formado por Botelho, Charles Möeller e mais cinco sócios, a empresa paulista traz espetáculos em esquema de franchising. Isto é, os musicais da T4F, em geral, são cópias dos originais, a exemplo de “Cats”, em cartaz no teatro Abril, e de “Mamma Mia!”, que deve estrear no segundo semestre.
Bert Flink, vice-presidente de comunicação da agência The Rodgers & Hammerstein Organization, que detém os direitos dos musicais “O Despertar da Primavera”, “Noviça Rebelde” e “O Rei e Eu”, confirma um aumento de solicitações entre produtores brasileiros. “Nós temos sido bastante procurados para licenciar versões na língua portuguesa”, conta. Segundo Flink, houve procura também pelas peças “Altar Boys”, “Footloose”, “Smokey Joe’s Café” e “I Love You, You’re Perfect, Now Change”, nenhuma delas ainda produzida.
O boom de musicais em terras tupiniquins faz parte de um contexto internacional, segundo Flink. Houve aumento na procura de direitos entre países da América Latina. Brasil, Rússia, China e Índia também se destacam na lista que contempla todos os continentes.
O diretor Jorge Takla, da peça “O Rei e Eu”, acha que a disputa pode estar acontecendo especialmente entre os musicais que estrearam na Broadway mais recentemente.
Para o diretor, o estímulo no Brasil foi determinado principalmente por questões de infraestrutura. O número de musicais cresceu depois que São Paulo e Rio de Janeiro ganharam teatros capazes de abrigar peças do gênero. “Também criou-se aqui um ambiente favorável, com técnicos e cantores-intérpretes mais bem preparados”, diz Takla.
A aquisição do direito para montar “O Rei e Eu”, no entanto, não foi tão difícil, diz. “Eu gosto de montagens antigas, e essas não são tão procuradas”, afirma Takla, que não revela o valor pago pelos direitos da montagem que tem Tuca Andrada no elenco. Mas conta que pagou US$ 25 mil (cerca de R$ 44 mil) por “My Fair Lady”, em 2007, e US$ 50 mil (R$ 88 mil) por “West Side Story”, em 2008. O próximo de sua lista é “Evita”, de Andrew Lloyd Webber. Está garantido, para 2011.

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